Hotéis Othon SA - HOOT4
Cuidado com a pirita! Brilho falso pode enganar investidores
No dia 2 de outubro deste ano, o Rio de Janeiro foi escolhido como a sede da Olimpíada de 2016. Quase que imediatamente, ações de empresas que poderiam se beneficiar do evento começaram a subir na bolsa de valores. Empresas de aluguéis de veículos, construtoras, incorporadoras, companhias áreas, concessionárias de rodovias e empresas ligadas ao turismo e com empreendimentos no Rio de Janeiro foram as principais. Em praticamente todos os fóruns de discussão na internet sobre ações, o raciocínio foi muito simples: se a Olimpíada vai acontecer no Rio em 2016, as empresas que lidam com turismo, construção e transportes na cidade deverão lucrar. Logo, pela conclusão dos participantes dos fóruns, vale a pena comprar ações dessas empresas – todas elas.
No entanto, pouca ou nenhuma análise fundamentada em dados reais foi feita na hora de se chegar a essa conclusão. Em alguns casos, a euforia pela escolha do Rio como sede superou a realidade e até empresas com grandes dificuldades foram agraciadas com altas expressivas, mesmo sem a existência de notícias que deem bons sinais sobre o futuro dessas empresas. Ações de baixa liquidez, ou seja, pouco negociadas no pregão, também tiveram valorizações expressivas. Pegue o exemplo das ações da rede de hotéis Othon (HOOT4).
Olhando do ponto de vista das perspectivas do setor, a rede Othon tem tudo para ser, sim, uma grande beneficiada com a realização da Olimpíada. Fundada em 1943, a empresa foi a primeira do setor de hotelaria a negociar suas ações na bolsa de valores e é uma das mais tradicionais redes do País. Hoje, a empresa possui 26 hotéis, sendo 7 apenas na cidade do Rio de Janeiro, 14 distribuídos pelo Brasil e 5 estabelecimentos no exterior. Ou seja, está muito bem localizada para aproveitar tanto o fluxo de turistas que virão para a Copa do Mundo de 2014 como para a Olimpíada de 2016. Recentemente, a empresa reformulou seu portal na internet para estabelecer um canal de vendas virtual.
Para o setor hoteleiro como um todo, as notícias também são muito positivas. De acordo com o Ministro do Turismo, Luiz Barretto, será criada uma linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinada, especificamente, para a construção de novos hotéis ou reforma de estruturas já existentes. Essa linha terá entre R$250 milhões e R$300 milhões em recursos. O financiamento irá oferecer condições especiais para pequenas e médias empresas e terá juros mais baixos, de acordo com Barreto. O anúncio foi realizado antes da escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, pois, com a Copa do Mundo, já havia a necessidade de ampliar o parque hoteleiro nacional. “Estamos discutindo diversas opções de construção e reforma do parque hoteleiro que garantam sustentabilidade ambiental e econômica para as cidades”, comenta o ministro.
No caso específico do Rio, a cidade dispõe, hoje, de 28 mil quartos de hotéis. O Comitê Olímpico Internacional exige que sejam disponibilizados 46 mil quartos para os visitantes e atletas durante os jogos. O dossiê da candidatura carioca mostrou que seriam ofertados 49,75 mil quartos, oferecidos em hotéis, transatlânticos e vilas olímpicas. E, nos últimos 25 anos, os principais investimentos em hotelaria foram feitos em São Paulo e no nordeste, e não no Rio de Janeiro, ou seja, há a necessidade de se investir especificamente na cidade para dar conta da demanda projetada. Além disso, em 2009, iniciou-se um movimento de concentração no setor com vários negócios envolvendo a venda de redes menores de hotéis para grandes grupos nacionais e estrangeiros. A Othon, com sua rede, poderia ser alvo da aquisição de um grupo que quisesse aproveitar a infraestrutura já existente para lucrar com o aumento do fluxo de turistas durante a Copa e Olimpíada.
Devido a esses fatores, as ações da rede Othon, que junto da InvestTur são os dois únicos papéis do setor de hotelaria e turismo negociados na Bovespa, tiveram um desempenho acima da média nos dias do anúncio dos jogos no Rio. No dia, houve 2.251 negócios com papéis da Othon na Bovespa, com uma valorização de 77,78% e, no dia útil seguinte (5 de outubro), foram realizados 903 negócios, com uma valorização de 14,06%.
Até o fim de outubro, as ações da HOOT4 apresentavam uma valorização de 120,00% contra 52,93% do Ibovespa. Só na primeira quinzena do mês, essa valorização foi de 91,7%. No entanto, em apenas outras 16 ocasiões, no período entre 15 de outubro de 2008 e 15 de outubro de 2009, houve mais de cem negócios com o papel na bolsa. No dia 5 de outubro, questionada pela Bovespa se havia algum fato extraordinário que justificasse o aumento fora do normal da movimentação do papel, a diretoria de relações com os investidores da Othon afirmou que não havia fato algum, ou seja, toda a negociação do papel estava baseada em especulação.
O desempenho da empresa também não mostra razão lógica para investir em suas ações. Desde 2000, a Othon tem prejuízo líquido em suas operações. O patrimônio líquido da empresa é negativo, ou seja, todos os seus ativos (terrenos, instalações e dinheiro em caixa) somados têm valor inferior ao das dívidas totais da empresa. E esse número cresceu nos nove primeiros meses de 2009 em relação ao mesmo período de 2008. De um patrimônio negativo de R$44,1 milhões em setembro de 2008, ele havia passado para R$63 milhões em 2009. No entanto, considerando-se a relação dívida bruta/patrimônio líquido, houve uma melhora de 35,2% para 20,2%.
Jogo de apostas
Para Andrés Taihei Fuentes Kikuchi, analista da Link Investimentos, o movimento das ações dos Hotéis Othon mostra um lado da bolsa que sempre existirá, que é o gambling (do inglês apostar). “Sempre existirá a pessoa que não é investidor, mas que quer ganhar dinheiro apenas nas oscilações”, explica Kikuchi. Na opinião do analista, o investidor que deseja comprar ações para se tornar dono de um pedaço da empresa e ganhar com o seu crescimento deve olhar os balanços publicados, os resultados e relatórios divulgados, ver se a empresa tem canais de comunicação abertos com os investidores, clientes e imprensa (o que mostra a transparência na condução do negócio) e acompanhar as notícias. “É necessário investir em conhecimento para poder fazer boas escolhas”, comenta Kikuchi. No caso da Othon, por exemplo, o analista comenta que houve a criação de um racional para o rali: “A Olimpíada será no Rio, virá muita gente à cidade e a Othon está no Rio, então, vou comprar”, o que não é um racional de verdade, amparado em fundamentos: “É uma empresa quebrada com uma dívida gigantesca”, adverte.
Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos, afirma que não faz sentido investir em uma empresa com um patrimônio líquido negativo e altamente endividada: “Não basta ela ser favorecida em um determinado momento se não tem bons fundamentos. O evento em si não é motivo para investir”. Esteves cita outras duas empresas que também tiveram altas expressivas na bolsa após a divulgação da escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos e que não possuem razões suficientes que justifiquem esse desempenho: a Sergen Serviços Gerais de Engenharia (SGEN4) e a Tecnosolo (TCNO4).
Para o professor Ronaldo Borges da Fonseca, da SG Invest Financial School, detectar empresas que são alvo de especulação na bolsa requer um pouco de experiência por parte do investidor em relação aos movimentos de mercado. Por isso, é necessário prestar atenção quando empresas sem bons números ou com histórico de poucos negócios estão subindo muito. “Ações com baixa liquidez são mais fáceis de serem manipuladas”, explica. O professor acredita que o investidor não pode tomar sua decisão baseado nos fóruns de discussões que existem em profusão na internet: “Esses investidores não são especialistas, têm interesses próprios e fazem comentários que apenas contribuem para seu benefício pessoal”.
Informação e transparência
O professor Ronaldo Fonseca afirma que o investidor, ao adquirir ações de uma empresa, está assumindo o risco do segmento econômico em que ela está inserida. Além disso, ele recomenda que o investidor olhe principalmente a geração de caixa, o retorno via dividendos, ou lucro por ação, e o potencial de crescimento da empresa. Para saber mais sobre uma determinada empresa ou setor, o professor recomenda que o investidor busque informações: “Normalmente, as corretoras têm economistas e analistas dedicados a acompanhar cada setor da economia e que fazem avaliações técnicas que podem auxiliar a tomada de decisão”. Outra dica é acompanhar o noticiário econômico.
Para Paulo Esteves, o investidor deve olhar dois pontos principais para se decidir por um papel: em primeiro lugar, ele acredita que a empresa deve apresentar uma liquidez mínima na bolsa, ou seja, que seja fácil comprar ou vender o papel. Em segundo lugar, ele diz que é necessário para a empresa ter um bom padrão de governança corporativa. “A pessoa deve entrar no site da empresa e ver se há uma área dedicada a dar informações aos investidores, como: a divulgação de balanços, dados sobre a organização, apresentações, entre outros”, comenta. Segundo Esteves, ter liquidez e transparência dá mais segurança para o investidor: “Se não tem isso, é preocupante”.
Além dessas duas precauções básicas, o analista ainda afirma que o investidor tem de trabalhar para conhecer mais a empresa. Para ele, o investidor deve ler os balanços, acompanhar as notícias, ler os comentários sobre os balanços feitos pelos auditores, enfim, informar-se. “Informação é a vantagem competitiva do investidor pessoa física”, acredita. Para aqueles que não têm tempo, conhecimento ou condições de fazer isso, Esteves recomenda que apliquem seu dinheiro ou em fundos de ações ou em clubes de investimento, em que profissionais da área deem as recomendações de onde alocar recursos.
No caso da Othon, o contador responsável pela análise do balanço listou 17 pontos de atenção no relatório do 2T09. Em 8 deles dizia “não foi possível satisfazermo-nos com as explicações dadas”, ou seja, quando questionada, a Othon não deu respostas satisfatórias. Em 4 itens, o contador afirma não ter recebido os documentos pedidos e, em 2 casos, não houve registro de provisões para eventuais perdas decorrentes de ações judiciais. A empresa foi procurada pela InvestMais, mas declinou dos convites para entrevistas, ou seja, a compra de ações dela não está fundamentada em ponto algum, seja ele financeiro ou de relacionamento.
Hotéis Othon
Dados
9/2008
12/2008
9/2009
18/11/2009
Preço / Lucro
-3,9
-1,9
-3,4
-5,5
Preço / Valor Patrimonial
-1,0
-0,7
-1,0
-1,7
Price Sales Ratio
0,5
0,4
0,7
1,1
Dividend yield
–
–
–
–
Valor de Mercado
45,9 M
38,6 M
66,1 M
108,4 M
Divida Bruta / Patrimônio Líquido
35,2%
-28,7%
-20,2%
Dividendo / Ação US$
–
–
–
–
Balanço
Dados
9/2008
12/2008
9/2009
Ativo Total
413,8 M
410,1 M
407,2 M
Patrimônio Líquido
-44,1 M
-53,0 M
-63,0 M
Receita Líquida Operacional
69,2 M
97,0 M
72,9 M
Lucro Operacional Ebitda
2,8 M
1,1 M
2,5 M
Lucro Líquido
-11,8 M
-19,8 M
-11,7 M
Fonte: www.guiainvest.com.br
(18/11/2009)
Hotéis Othon S.A. / Anderson Lueders
A empresa Hotéis Othon S.A. apresenta uma visível estagnação em sua receita líquida. Nos idos de 2000, ela somou R$94,9 milhões, enquanto que, no último balanço anual, atingiu o total de R$96,9 milhões, com uma pequena variação significativamente inferior à inflação do período. Nesta década, não houve ano algum em que a companhia tenha conseguido apurar seu lucro líquido. Com isso, o patrimônio líquido, conforme divulgado no último balanço disponível para consulta no site da Bovespa, em 11 de setembro de 2009, referente até o primeiro semestre deste ano, está negativo em R$58,5 milhões (passivo a descoberto).
Com a cotação das ações preferenciais a R$0,60, o valor de mercado da empresa equivale a R$110,2 milhões. Seus indicadores fundamentalistas, conforme o site GuiaInvest, são Preço/Lucro (nos últimos 12 meses) de -6,2 e Preço/Valor Patrimonial de -0,31. A companhia custa o equivalente a 1,1 vezes o seu faturamento líquido de um ano. O indicador negativo Preço/Lucro sinaliza os prejuízos acumulados nos últimos 12 meses e o Preço/Valor Patrimonial, também negativo, demonstra que, caso todos os ativos da companhia fossem liquidados hoje, grosso modo, não seria suficiente sequer para pagar os passivos.
No entanto, apesar do histórico dos últimos dez anos, a companhia tem um valor de mercado superior a R$100 milhões. A cotação em centavos de suas ações certamente é um dos grandes motivadores para a escolha de diversos atuantes no mercado acionário, muito embora há de se ressaltar que isso, muitas vezes, não passa de uma mera ilusão e de uma escolha bastante arriscada, sem qualquer embasamento na análise fundamentalista.
Quando uma companhia tem prejuízos, é necessário visualizar se, ao menos, a operação corrente tem proporcionado lucratividade para que um dia o passivo possa ser quitado, invertendo o resultado. Grande parte do seu passivo decorre da inadimplência de tributos, que estão parcialmente parcelados pelo Refis – programa de parcelamento fiscal em condições vantajosas, como diminuição de multas e taxas de juros, além de prazos prolongados. Manter-se nesse programa representa uma grande diminuição do custo da dívida. Ocorre que a própria companhia alerta nas notas explicativas do último balanço divulgado que está e/ou esteve inadimplente com impostos federais correntes, o que pode acarretar a suspensão do parcelamento e tornar exigível a curto prazo uma dívida superior a R$150 milhões.
Além disso, em vários dos últimos trimestres nem sequer restaria o lucro operacional, mesmo se as despesas financeiras fossem expurgadas. Na eventualidade de haver algum ativo que estivesse contabilizado por um valor muito inferior ao de mercado, existiria uma oportunidade para o investidor. Caso esse ativo fosse vendido, haveria uma melhora da estrutura de capital e a realização de um grande lucro não operacional, importante para reduzir o passivo e possibilitar novos investimentos. Mas não se vislumbra isso nos balanços empresariais apresentados.
Por fim, o fato de a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 serem no Brasil/Rio de Janeiro, não aparentam ser suficientes para indicar que a companhia conseguirá sair da precária estrutura de capital. A empresa é recomendável, portanto, apenas aos investidores que não consideram importante o histórico de lucratividade de uma companhia, dando maior ênfase a critérios que considero menos confiáveis.
Autor(a): Adriano Koehler
http://www.revistainvestmais.com.br/smallcaps/554-Hoteis+Othon+SA+HOOT4.html
Alguém para defender a companhia na análise gráfica?
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